Somos todos notórios comedores de baratas.
Seja em cachorro-quente de salsicha com perninhas cozidas, salada de frutas com asinhas, purê de batata com antenas, arroz com restos de ovos e, mas corriqueiramente, in natura, na ponta daquela caneta que você adora mordiscar distraidamente ou mesmo num prato “limpo” que fica armazenado por dias numa prateleira qualquer da cozinha daquele seu restaurante favorito. Com macarronada por cima.

Mas não se preocupe pois você tem anticorpos que defendem o seu organismo da maioria dos malefícios potencialmente perigosos provenientes daqueles insetos.
Mas seu corpo só pode desenvolver anticorpos através de exposição, o que significa que você está constantemente comendo baratas.

A forma mais frequente de consumo de blatarias, no entanto, é via escova de dentes (elas adoram se coçar nas cerdas úmidas e petiscar os restos microscópicos de comida que você gentilmente as cede todas as noites), pois só se pode considerar como ingestão de barata se elas ainda estiverem cruas, pois quando cozidas elas adquirem as mesmas propriedades culinárias que seus primos-irmãos, os camarões. Também conhecidos como “baratas marinhas“.

É sério, baratas são pouco mais que camarões terrestres.

E por falar em camarão, a não ser que você seja alérgico ou o bicho esteja podre (ou cru, como as baratas que você come diariamente), pode comê-lo à vontade.

Como matar baratas?

Nem sempre armas biológicas são eficientes para matar baratas. Particularmente, opto sempre por métodos físicos, que evitam surpresas desagradáveis (apesar de fazer sujeira). No entanto, causar achatamento dorso-ventral nestes animais exige agilidade: por que é tão difícil dar uma boa pisada em uma barata?

A resposta é bastante conhecida: assim que sentem deslocamentos de ar repentinos, como os causados por suas Havaianas (não é um publieditorial), as baratas saem correndo como loucas para uma direção imprevisível. O interessante é que pesquisadores ingleses descobriram, em um artigo publicado no final do ano passado na Current Biology, que as direções que as baratas correm são pré-determinadas.

Para descobrir isto, os pesquisadores pegaram cinco baratas e assopraram ar em sua direção entre 70 e 95 vezes. Curiosamente, a rota de fuga de 4 das 5 baratas formava ângulos de 90, 120, 150 ou 180 graus em relação ao vento. No gráfico abaixo, podemos notar os ângulos de fuga utilizado por um dos indivíduos (quanto maior a barra, mais vezes este indivíduo fugiu por este ângulo).

Além de fazer o teste da fuga muitas vezes em um indivíduo, os pesquisadores fizeram o teste uma vez só em 94 baratas diferentes. O resultado (abaixo, à direita) foi comparável aos dados obtidos com os cinco indivíduos somados (abaixo, à esquerda).


Estes dados sugerem que as baratas, ao sentir o apocalipse emborrachado aproximando o seu ser, correm em ângulos determinados. A quantidade de ângulos e sua distribuição é suficiente para tornar a resposta das baratas imprevisível, apesar de eu recomendar sempre pisar na barata um pouco atrás e à sua esquerda, para aumentar as chances de matá-la.

Os dados também permitem concluir que as baratas devem ter um número determinado de “programas” ativados na hroa da fuga. Provavelmente, dependendo de como ela sente a aproximação de perigo, ela ativa o programa “90 graus”, “120 graus”, “150 graus” ou “180 graus”. A existência de programas determinados também significa que pode ser possível identificar as redes neurais responsáveis pela fuga nas baratas. Um projeto que, por mais interessante que possa parecer para uns, não seria para mim.